segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Capítulo 19 : Rafael, como o anjo.


  -Como assim? –Perguntou Marcos, de um jeito que parecia estar fugindo da situação.
  -Por que não sabem de você no hospital? Por que você estava aqui?-Ivan falava desesperado com Marcos, que olhava assustado para ele e para o pessoal de Sandra.
  -Eu... Eu... Desculpa. A mansão estava destruída, eu voltei lá para levar Laura comigo, mas vi sangue e vidros quebrados. A única coisa que imaginei fazer foi vir para a igreja.
  -Marcos, você é cético.
  -Ivan eu estou desesperado. – Marcos começou a chorar e Ivan vendo aquilo não sabia como agir. Não se lembrava de seu primo chorando, e ele sempre se fazia de forte em todas as ocasiões. Certamente ele não tinha culpa de nada.
  -Ivan, fique aqui com Marcos. Vou procurar o padre. –Disse Sandra, indo em direção à um frei que molhava flores aos pés de uma estátua da santa da paróquia.
  -Padre?-Marcos perguntava ao primo.
  -Pois é, é melhor você saber da história toda. –Ivan contou sobre tudo, desde o que sua avó lhe contara até o que Sandra havia comentado, passando por experiências que os dois já viveram na família.

  Laura estava com fome. Não via mais seu sequestrador, o vento quente havia amenizado a dor que o suor fazia nas cicatrizes. Sua mão estava dormente e provavelmente a ferida estava infeccionando.
  Onde ela estava? Onde seu sequestrador estava? E por que uma pessoa conhecida estava fazendo isso com ela?
  Não há explicações para pessoas loucas. Ele simplesmente havia incluído ela nos planos de morte que havia traçado aos outros. Só que com ela seria lento. Ele a deixaria morrer de fome? Ou de alguma doença causada pelos cortes?

  -O que a senhora gostaria de falar com o padre?É difícil ele receber pessoas sem hora marcada, mas dependendo da gravidade, ele lhe atenderá. –O frei falava pausadamente. Sereno. Um senhor nos seus sessenta anos de idade.
  -Senhor frei, eu sou da polícia. Preciso realmente falar com ele. Não é assunto paroquial.
  -Entendo. Venha comigo na sala de visitas. Informarei à ele e provavelmente lhe atenderá.
  -Sim, mas diga apenas a ele que somos da polícia. Por favor. Não quero que ninguém mais saiba. – Sandra e seu grupo foram caminhando para a pequena saleta ao lado do altar.
  O cheiro repugnante das flores da igreja havia sumido. Nem parecia mais estar em uma igreja, não fosse por uma foto de Nossa Senhora das Dores pendurada na parede.
  -Gostariam de um café? –Dessa vez a pergunta veio de um rapaz, com vestes de coroinha, apesar da idade. Provavelmente uns vinte e dois anos.
  -Eu gostaria sim, obrigada. –Disse Sandra, sendo copiada pelos seus colegas.
  O rapaz sumiu por uma porta. Outra foi aberta.
  -Pois não? Sou o padre Caio. Podem entrar. –Um homem de uns cinquenta anos de idade, apenas com uma calça social preta e a típica blusa preta com colarinho branco dos padres abriu a porta, mas sua feição era de medo. Sandra logo sentiu isso.
  Entraram. Sandra sentou em uma das duas cadeiras de frente para a mesa do padre e os demais em uma poltrona ao lado.
  Sandra começou a falar a história desde o início, não entrando em detalhes que não cabia ao padre saber.
  -Lucio faleceu de forma trágica. O resto da família dele era toda da Itália. –Disse o padre a Sandra.
  -Eu sei disso. Mas o que mais me intriga é que quando o caso veio em minhas mãos, eu não tinha nenhum relato de nenhum parente dele no Brasil. E descobri hoje que o senhor está com a guarda de um filho dele que eu nem sabia que existia.
  -Sim. O fato de não existir nenhum parente de sangue de meu amigo aqui é verdade. O menino é adotado. –O padre fez uma breve pausa, como quem busca no passado mais respostas. –Ele o adotou quando o menino tinha dez anos. Foi mais ou menos na época em que Lúcio descobriu que não poderia ter filhos. E ele sempre sentiu a necessidade de passar seus conhecimentos adiante. Visitou um orfanato e o adotou. O menino nem batizado era, acredita? Foi abandonado no orfanato ainda sem ter nem dois anos. Estava com sinais de agressão por todo corpo. Com sete anos mal falava.
  -Preciso conversar com esse menino. Sabemos que um dos ensinamentos que Lúcio precisava passar a ele é uma das peças do quebra cabeças que tentamos desvendar aqui. Por favor, padre. É algo que pode evitar que mais pessoas morram brutalmente como o Lucio. – Nesse momento a porta se abriu e o cheiro de café tomou conta do ambiente.
  -Desculpa senhores. O café. –disse o menino, envergonhado por atrapalhar.
  -Não está atrapalhando, Rafael. Entre, essas pessoas gostariam mesmo de conversar com você. –Disse o Padre.
  -Rafael. Que lindo nome. Muito prazer. –Disse Sandra com um sorriso.
  -Sim. Rafael. Como o anjo. As freiras do orfanato costumavam dar nomes de anjos aos meninos. –Disse o padre.
  Rafael sorriu de volta para Sandra. Serviu o café a todos. Parou um instante e disse:
  -Desculpa, já volto. Esqueci de pegar o açúcar. –E envergonhado, virou para Sandra olhando-a da cabeça aos pés e continuou. –A senhora prefere adoçante?
  -Açúcar mesmo está bom.
  Rafael saiu porta afora, mas não entrou na outra na qual havia saído um tempo atrás. Saiu pela porta que dava para a igreja.
  Cruzou todo o salão passando por Ivan e Marcos. Parou. Deu um sorriso e continuou a olhar para eles enquanto andava.
  -Aquele não era o amigo nerd da Laura?- perguntou Marcos.
  -Não sabia que ele era coroinha. –Ivan disse se levantando e olhando para trás, em direção a Rafael, que entrava em uma porta no final do salão da igreja. Ainda sorrindo.
  -Gosto menos ainda de nerds que são coroinhas. Qual o motivo do sorriso dele?
  -Não sei, mas ele saiu da porta que Sandra entrou.
  -Pra mim é motivo para segui-lo.
  Marcos e Ivan foram em direção a porta que Rafael havia entrado. Uma escada.
  Provavelmente para a torre do sino.
  Sangue.

domingo, 19 de dezembro de 2010

Capítulo 18 :Diamond Skull

O sangue ia se espalhando pelo corpo de Laura e ela chorava de dor e desespero, vendo o sorriso no rosto de seu sequestrador .



A noite ficava cada vez mais escura e o céu coberto de estrelas e sem lua fazia Laura ter a sensação de que tudo seria apagado.


-Veja só, veja só. –O sequestrador se distanciou e apreciou o crucifixo desenhado no corpo de sua refém. –Agora você parece mais religiosa que antes. Sabia que Cristo sangrou por nós? Claro que sabia minha amada católica. Você pode sangrar por pena de mim, pedindo misericórdia à minha alma. E você sabia que as pessoas que têm as chagas Dele são consideradas puras?-Foi lentamente passando a faca pelo braço direito de Laura. –Que tal você se purificar a partir daqui?- Ele apertou a ponta da faca contra a palma da mão de Laura, fazendo com que ela soltasse um grito abafado e deixasse escorrer mais lágrimas em seu rosto suado.


A noite quente se prolongava, o suor do corpo de Laura fazia a cicatriz em sua barriga arder mais. Sua mão latejava e não parava de sangrar. Ela apenas podia olhar para o alto. O torno de mesa apertava tanto sua cabeça que se ela se mexesse poderia se machucar.


-Vou deixar esse brinquedinho aqui. –Disse ele carregando uma pistola e colocando sobre algo que Laura não podia ver. - Mas não é para você, não fique feliz porque ainda não é sua hora. Esse é um presentinho aos que virão te procurar. Não os culpo, eles pensam que irão te salvar, mas a salvação é ao meu lado. Eles estavam te desviando da divina luz. Acabarei com todos esses imbecis. Um por um.


A delegada Sandra e sua equipe convenceram à Ivan os levar até o hospital onde seu avô estava internado.


-O que é isso, Ivan?-A avó dele perguntara vendo aquela gente toda de terno.


-Policiais, eles precisam fazer umas perguntas à senhora.


-Justo agora? Eu pretendia ir até o quarto do meu marido, agora que acabou a cirurgia.


-Vovó, é importante.


-O que está havendo? Onde está Marcos, Ivan.


-Não estava comigo, tia. A gente deve ter se desencontrado. –Ivan mentia, desviando seus olhos do da aflita tia.


-Vamos até a sala de espera, vou tomar um café enquanto eu respondo às perguntas dos policiais. Provavelmente sei o que querem saber.


Em uma hora e meia de conversa a avó de Ivan deu definitivamente todos os detalhes que os policiais precisavam saber.


Ivan estava boquiaberto com tantas informações.


-Então, o que temos agora é a declaração de quem vivenciou tudo. A senhora afirma que seu marido deu início a uma sociedade secreta?- Confirmava a delegada.


-Sim a Diamond Skull surgiu ainda na universidade de Yale, eles prezavam as riquezas materiais, os estudos e o trabalho. Todos os que participaram da sociedade se tornaram médicos, militares, políticos ou cientistas. As ramificações feitas pelos filhos dos integrantes originais já eram formadas por engenheiros, professores renomados e alguns economistas.


-E a senhora nega que eles tenham algum envolvimento com seitas ocultistas ou afins?


-Eles nunca mexeram com ocultismo. Era apenas uma sociedade, não uma seita.


-E a senhora imagina o porquê dos integrantes serem assassinados brutalmente? Não consegue imaginar quando isso começou e por qual motivo?


-O motivo eu não sei, mas me lembro do primeiro que morreu. Chamava-se Lúcio Campos e ele era teólogo.


-Sim, foi o que morreu queimado em um cemitério um ano atrás. Lembro-me que nós prendemos os culpados. Era um grupo de homens de classe alta.


-Exato. Esses homens eram uns que descobriram a sociedade por um vacilo de informação do próprio Lúcio. Eles gostariam de entrar, visando à ajuda financeira que os membros oferecem uns aos outros quando necessário. Como Lúcio percebeu isso, negou a apresentação à sociedade. Deu no que deu.


-Mas se nós prendemos os assassinos, quem estaria matando os outros integrantes?


-Isso eu já não sei te dizer. Foi a única vez em que uma informação sobre a sociedade vazou.


-Vamos ter que voltar o caso a partir daí. Tem algo que precisamos investigar ainda.


-Vovó, porque a senhora nunca falou sobre esse assunto comigo e com Marcos?


-São muito novos, saberiam depois dos 25 anos e formados. Mas o filho do Lúcio soube após a morte de seu pai. O que aconteceu com o menino?


-Filho? Não me lembro de nenhum menino.


-Ele foi entregue ao padrinho, na Igreja Nossa Senhora das Dores, no Leblon. O padrinho é padre.


-Eu não sabia disso. Não fui informada de nenhum cosanguíneo no Rio de Janeiro. Sei que ele tinha uns parentes na Itália, mas não me informaram...


-Bom vocês podem ir à igreja. Se o menino está ou não eu não sei, mas vocês podem interrogar seu padrinho.


-Ok. Ivan vem com a gente?- A delegada virou-se para o menino quase como se fosse uma ordem.


-Sim. Vovó, se o Marcos ligar, me avise. Quando o vovô acordar, me avise também.


Saíram todos da sala de espera. Sandra falava no rádio com a equipe de busca de Laura. Ainda nada.


Chegaram à Igreja em vinte minutos. A mesma em que Laura se confessou.


Ivan sentiu um aperto no peito por retornar aquele lugar, não se imaginava ali procurando por resposta pelos assassinatos.


Passaram pelo biombo que estava na frente da porta, e adentraram na igreja.


Ivan reconheceu uma silhueta sentada de cabeça baixa nos bancos:


-Marcos? O que está fazendo aqui?-A voz de Ivan ecoou na igreja quase vazia, o que fez Marcos se virar e encarar assustado a presença dos policiais.


quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Capítulo 17 :Você vai ser morta lentamente

Não demorou muito para que o pessoal da divisão de homicídios chegasse ao local.



Tudo foi examinado, medido, colhido, analisado. Ivan já assistira a tudo aquilo antes.


Porem, uma cena o intrigava dessa vez. Sandra não estava ao lado do pessoal da divisão, estava ao lado de homens de terno que traziam um grosso caderno e faziam anotações conforme ela ditava fatos.


-Ivan, você pode vir aqui? –Ela perguntou notando que Ivan estava olhando fixamente para eles.


-Sim?


-Esse é meu antigo pessoal. Eles continuaram comigo na investigação paralela da sociedade. Estamos juntando alguns fatos e descobrimos que esses nomes grifados no caderno são das pessoas envolvidas no nosso caso.


-Então? Acho que estão fazendo um bom trabalho. Qual o próximo passo agora?


-Chegar ao seu avô. Precisamos saber por que as pessoas da sociedade estão morrendo e precisamos prender esse médico que ainda deve estar desviando dinheiro.


-Meu avô está em um hospital. Só amanhã pra falar com ele. Não sei se minha avó sabe de algo, já que são tantos anos juntos. Te passo o endereço de lá.


Policiais, pessoas que investigam sociedades, sangue. Ivan estava tonto. Em parte a falta de comida já que já estava de noite e ele mal tinha tomado café.


Se fosse uma sexta feira comum, certamente ele estaria no flat tomando cervejas com Ivan e Laura fazendo hora para ir ao Baixo Gávea ou Lapa.


Marcos... Onde estaria ele em um momento desses que não estava nem ao lado do avô e nem ali, com Laura. E essa então? Não tinha nada a ver com o assunto e poderia estar morta nesse momento.


‘Não, não está!’- Ivan balançava a cabeça. Mais uma morte? Como assim? O que está havendo?


Ivan olhou para o céu e viu a primeira estrela brilhando firmemente.


Estrela essa que Laura também estava olhando. Foi a primeira coisa que ela pode ver depois de ter sido desencapuzada. Sua boca estava amordaçada e seus braços amarrados abertos em uma mesa. Não conseguia mexer a cabeça porque um torno de bancada estava a imobilizando.


-Meu benzinho, não se mexa. Não quero ter que apertar mais o torno. –Seu sequestrador passava as mãos nos cabelos de Laura. –Não vai me dizer que não ficou feliz em me ver? Não seria legal se eu fosse um verme desconhecido. Poderia estar te estuprando agora. –Suas mãos passavam pelo corpo de Laura como quem faz carinho.


Laura tentava gritar. Suas lágrimas não paravam de sair.


-Shhhhh. Silêncio. Não curto fazer isso. Ainda mais com você que é tão querida! Eu prefiro fazer pequenos cortes e ver seu sangue colocando cor em seu corpo. Essa blusa do Chelsea é muito grande pra você. Vamos cortá-la. –O seqüestrador foi lentamente passando uma faca da gola da blusa até a ponta, fazendo-a abrir e expor a semi-nudez de Laura. –Que tal se eu fizesse um crucifixo bem aqui? – A faca penetrava no abdômen de Laura e lentamente seu sequestrador ia fazendo o desenho.


Laura chorava e tentava se debater.


-Porque você acha que esse torno está em sua cabeça? –E foi apertando mais até Laura parar. –Saiba que eu tenho força para apertar até estourar seu crânio. Não apresse as coisas. Você vai ser morta lentamente.


Capítulo 16 : Onde está Marcos?

-Está tudo certo agora. É só esperar o efeito do anestésico passar e medicá-lo com os remédios corretos. –Disse o cardiologista à avó de Ivan.



-Bom, menos uma coisa pra nos preocupar. O importante é manter a nossa família unida todo o tempo. Obrigada doutor. –E virando-se para a mãe de Marcos, disse: - E Marquinhos? Onde está?


-Ai, a senhora não conhece aquele moleque? O telefone tocou e ele logo sumiu! Nem me disse pra onde ia.


-Talvez isso de sumir seja de família. Não vamos nos preocupar, não é?


Na mansão, Ivan chorava. Queria uma saber o que tinha acontecido por lá, mas não conseguia. –Tenho que achar algo! Tenho que achar algo!-Se levantou do chão e correu para a biblioteca. A delegada correu atrás do garoto insensato.


-Moleque! Não coloque a mão em nada, ou vai estragar tudo!-Sandra estava com sua 38 em mãos na direção de Ivan. –pare imediatamente onde está e acalme-se.


-Como que eu vou me acalmar com você me apontando uma arma. -Disse entre os dentes. –Acha mesmo que depois de ver meu pai morto, ver meu professor morto, ver supostamente meus seguranças morrerem e ver o sangue da minha amiga nesse chão eu vou me importar com uma merda de arma pra mim? Não me peça calma!–Agora gritava.


-Se você colocar a mão em algo que eu não esteja vendo, vai alterar a cena do crime. Não seja criança. –Disse abaixando a arma.


-Ela estava vendo a mochila do professor Carlos. Não sei se encontrou algo. –Disse entrando na biblioteca e pegando a mochila do chão.


-Que caixa é essa?


-É um anel. Tem uma inscrição nele que eu encontrei em uma coroa de flores na cova do professor e em um lenço do meu pai.


-Meu Deus! Tudo se encaixa! O médico tinha um anel assim e o maluco do meu chefe da Federal tinha um broche.


-Então realmente estão envolvidos em algum tipo de sociedade?


-Desculpe Ivan. Mas sim, estão. Ao pé que estava minhas investigações, ela é uma sociedade antiga que foi formada em universidade nos Estados Unidos. Foi uma forma de dar continuidade à sociedade Skull and Bones e outras seniors de Yale.


-Me-meu avô se formou em Yale.


-Sabe se ele guarda recordações ou anotações em algum lugar?


-Tem algumas fotos naquela estante e uma ampliada aí na parede.


-Ivan. Você já prestou atenção nesse quadro? Estão todos com o anel de caveira e tem a bandeira F.E.C. atrás.


-Sério? –Ivan estava pasmo. Esfregou as lágrimas e deu uma boa olhada em uma pista que sempre esteve na cara dele. –Acho que só as mulheres perceberiam isso. Sempre olhei mais para a farda deles.


-Será que sua amiga viu isso?


-Não sei. Tome, este caderno tem uns números grifados. Era do professor, não sei se ajudaria.


-Talvez sim. Vou ligar para meu pessoal da delegacia. Temos que investigar o sumiço de sua amiga. Tente avisar aos pais dela.


Aos pais dela... Como avisar isso? Ivan achou melhor deixar pra depois.


O celular toca.


-Oi vó. O que? Não sei onde Marcos está. Ele saiu daí tem tempo? Está bem. Qualquer coisa aviso. Tchau.


-Marcos. O primo esquentadinho e brincalhão. Não gosto de pessoas bipolares. Tem sempre tendência a fazer algo errado na vida.


-O que você quer dizer com isso, delegada?


-Por acaso seu primo sabia atirar?


terça-feira, 26 de outubro de 2010

Capítulo 15 : -Eu nem sei tanto do meu pai...

-Ivan, te chamei aqui porque eu descobri algo que gostaria que você me explicasse.-Sandra, a delegada, estava séria e realmente queria respostas.



-No que eu puder ajudar. - Ivan tentava saber o que ela tinha a perguntar. Quem tinha dúvidas era ele.


-Você sabia que seu pai viajava e encontrava pessoas de todo o mundo. Mas você sabia de algum hobbie extra-trabalho dele? Nem sei se podemos chamar isso de hobbie.


-Delegada, não sei de que está falando. Meu pai tinha o trabalho, a família e a religião. Nem tinha muito tempo pra se divertir. Estava sempre em reuniões com vovô e alguns sócios.


-E o que você entende por sócios?-Disse isso escorregando lentamente seus punhos para frente da mesa. –Você não é mais nenhuma criança, acho que pode entender se o seu pai faz ou não algo de errado.


-Meu pai não fez nada de errado!-Disse isso se levantando de súbito-Ele foi assassinado brutalmente. E até agora seu pessoal não me explicou como!


-Menino, sente-se e pare de dizer o que não sabe. - A delegada usou apenas da educação e um olhar sério para desconsertar Ivan e fazê-lo sentar. - Pense bem e tente imaginar se você realmente sabia o que seu pai fazia em todas as vinte e quatro horas do dia.


Não. Ivan realmente não sabia. Pra falar a verdade ele nem fazia ideia. Estava sempre bebendo com o primo, ficava mais no flat do que na mansão e nem dava importância ao emprego de seu pai.


-E o que você achou? Eu nem sei tanto do meu pai, pensando bem. Sou um cara egoísta.


-Pesar sentimentalismo agora não conta. Você é apenas jovem. Ninguém dá importância até perder, né? Enfim, seu pai estava envolvido em uma espécie de sociedade que estávamos investigando fazia um tempo. Ninguém aqui da polícia sabia que ele estava envolvido. Pra falar a verdade, ninguém sabia ao certo quem estava envolvido. Mas desconfiávamos que um médico estivesse sonegando impostos e estava. Investigando melhor, soubemos que ele estava envolvido em uma sociedade e do nada a nossa investigação parou.


-E qual o motivo de ter parado?


-Havia um chefe nosso da Federal envolvido e bloqueou o nosso progresso. Daí eu vim parar na delegacia de homicídios e larguei o caso profissionalmente. Porem, aquilo me intrigou. Era um bom caso e eu queria saber que sociedade era essa.


-E é essa que meu pai está envolvido?


-É essa que seu avô ergueu durante todos esses anos.


-Mas... Meu avô? Como se fosse o fundador dessa sociedade? Mas se ela levou meu pai à morte... Como?


-Calma. Não sei. Tudo tem que se encaixar, e é por isso que eu te chamei aqui. Tenho que juntar os meus fatos com os seus e saber quem está por trás disso. Não quero imaginar que seja alguém da sua família.


-Delegada, minha família está tão reduzida que vai faltar pouco pra que eu desconfie de mim mesmo.


-Falando nisso, e seu primo? Onde Marcos está?


-No hospital com o vovô. Operando o coração.


-Vamos até a mansão de seus pais. Você pode me ajudar em algumas coisas.


Ivan fez que sim com a cabeça e eles foram no carro de Sandra.


De longe, Ivan percebeu os vitrais quebrados e a porta semi aberta.


A delegada Sandra engatilhou a arma e foi à frente de Ivan, que estava com o celular na mão.


-A casa estava vazia?


-Não, a Lau estava aí. Céus! O que eu deixei acontecer? Pedi para que ela me ligasse.


O celular de Laura tocava na biblioteca com a chamada de Ivan. Sandra confirmou que a casa estava vazia e eles entraram.


Sangue por todo lado. Vidros quebrados, livros no chão, estátuas rachadas.


E nada de Laura.


Na escada, um símbolo. Uma espécie de recado do assassino.


Havia uma cruz feita com sangue.


Sangue de Laura.


Capítulo 14 : Tiros em Laura

Laura estava assustada. Estilhaços de vidro cortaram suas costas e seus braços.



A biblioteca havia se transformado em um campo de batalha.


Onde estaria o atirador? Para onde correr?


-Sei que não se machucou. Pare de brincar a menininha inocente e saia daí.


-Seu idiota! Nem é homem suficiente pra fazer isso cara a cara. - Laura ria do atirador, zombava. Mas seu rosto suado e cheio de lágrimas revelava o medo que sentia.


-Eu até sou. Mas que graça teria acabar com a brincadeira logo agora? É tão bom ver uma mulher correndo por minha causa.


Outro tiro. Dessa vez acertou o vaso de flores na mesa ao lado do computador. O atirador aproveitava o espaço aberto pelo primeiro tiro para acertar toda a biblioteca sem que Laura soubesse de onde estava vindo.


O desespero fez com que Laura começasse a correr para fora da biblioteca. Segurando o celular de Carlos em uma das mãos e a outra se protegendo dos estilhaços de tudo que fosse capaz de explodir naquele lugar.


Ele continuava a atirar.


-Corra pequena lebre. Adoro caçar.


-Cala a boca! Saia! Vou chamar a polícia!


-Não te darei esse tempo. Acha que eu deixarei você entra na biblioteca de novo?


Laura pensou bem. Havia esquecido seu próprio celular na biblioteca. Parou no meio da escada e olhou pra trás. Em um flash de segundo foi atingida no pé esquerdo.


Sua força fora toda embora. Caiu de dor na grande escada de madeira da mansão.


-Não, não, não! Ande Laura, ande!-Laura chorava a si mesma. -Pelo amor de Deus! Não posso ficar aqui.


Escutou mais um tiro. A porta da frente que antes estava trancada acabava de ter as dobradiças arrancadas.


Passos. Leves passos.


O medo de Laura se transformava em angústia ao deduzir que se tratava de alguém conhecido.


O atirador se virava para a escada, desvendando seu rosto à Laura, que não conseguia andar nem pelo tiro nem pelo impacto de saber quem era. Seus olhos choravam um desespero pelo reconhecimento e pelo medo de tudo aquilo.


-Eu não acredito que todo esse tempo... Todas essas mortes. Você?


-Desculpe a surpresa. –disse.


Laura só conseguiu ouvir um estampido.


Tudo se apagou.


sábado, 2 de outubro de 2010

Capítulo 13 : Fraternidade, Eulogia, Conhecimento

  Marcos já trazia a mochila de Carlos.
  Laura pegava um pouco de água para Ivan, que parecia estar eufórico e ao mesmo tempo com medo de dar mais um passo sobre tudo aquilo.
  -Essa caveira ainda me intriga, por que ela apareceu assim?- Ivan abria a mochila de Carlos e pegava o anel com diamantes. – Que diabos seria isso? Que excentricidade é essa de ter um anel de caveira cravejado de diamantes?
  -Não faz sentido, mas alguma coisa aqui tem que ter. –Marcos abria cada centímetro da mochila de Carlos. –Bem, esse caderninho de telefones tem uns grifados. Talvez seja alguma coisa. Ei, um celular!
  -Liga. Quem sabe alguém não retorna?-Disse Laura, dando água a Ivan – Só espero que não venha nenhum parente ligar pra cobrar um celular, né?
  -Achei o número da delegada que estava cuidando do assassinato do meu pai. Quem sabe aquela filha da mãe não me dá alguma notícia, finalmente. – Ivan acabou de falar as últimas palavras e seu telefone toca. – Alô. Delegada Sandra?! E-eu ia te ligar agora. Como? Mas na delegacia mesmo? Sim, pode ser. Claro, estarei lá.
  -Ela adivinhou, foi?
  -Sim, e parecia estar bem nervosa. Disse pra eu ir à delegacia de homicídios na Barra. Ela descobriu algo, acho. Não quis me falar por telefone. Acho que devo ir sozinho.
  -Bom você já é maior de idade. Eu acho que devo ir ao hospital ver o vovô. De lá te mandarei notícias.
  -Se não for pedir muito, posso ficar levar as coisas do Carlos para analisar sozinha? Acho que sem vocês falando no meu ouvido o tempo todo eu poderei pensar melhor. - Laura sempre aproveitava uma ironia.
  -Por mim tudo bem. Olha, fica com essa cópia da chave, fecha a porta da biblioteca antes de sair e tranca direito a porta dos fundos. - disse isso saindo porta afora, tão afobado que voltou para pegar a carteira que estava encima da mesa. –Ah, lembrando: tomem cuidado e qualquer coisa, me liguem.
  -Pode deixar. - disseram os dois.
  -Bem, Laura. Vou indo. Pegarei um taxi aqui na frente. Meu carro ficou no flat de Ivan. Me liga se precisar.
  -Tudo bem.
  Laura estava sozinha. Em suas mãos, um mistério de homens mortos parecia querer ser desvendado, porem não havia nada se encaixando em nada.
  Resolveu largar a mochila de Carlos e olhar os livros da família de Ivan.
  No computador, havia uma pasta chamada fraternidade. Nela estavam guardadas fotos de viagens ao oriente médio. Dentre elas, Mauro estava com uma blusa escrita ‘Fraternidade’ no meio de dois homens, um envolto com a bandeira de Israel e outro com a bandeira do Egito. De fundo, um dos muros da faixa de Gaza.
  Laura sabia que o pai de Ivan sempre foi interessado em religiões do mudo e buscava sempre encontrar a paz onde fosse.
   Em outra pasta, estava escrito: Nos hic ossa vestra manent. A pasta estava vazia.
  -Odeio Latim. – resmungou consigo.
  O computador não tinha mais nenhum arquivo considerado estranho ou que despertasse a curiosidade de Laura. Resolveu então dar uma olhada na biblioteca.
  O avô de Ivan tinha se formado na Universidade de Yale, nos Estados Unidos. Exibia com gosto seu diploma na parede. Ao lado, uma foto em preto e branco de um grupo de rapazes.
  O bom olho de Laura fez com que ela visse o mesmo anel de caveira em cada uma daquelas mãos. -Não, não poderia ser o mesmo. - ela pensava, mas era impossível ser apenas uma coincidência.
  -‘Fraternidade, Eulogia , Conhecimento’ . –Leu em uma das bandeiras que estavam atrás deles na foto. –F.E.C. ! Putz! Não pode ser isso!- Laura estava dando pulos de felicidade na biblioteca. E voltando-se para o computador, falou sozinha: - Santa enciclopédia me ajude a descobrir o que ‘Eulogia’.
  Na pasta aberta, várias explicações apareciam com um link de internet para seguir. A maioria dizia que Eulogia era uma deusa grega. Mas, de todos, apenas um fez com que ela abrisse, e este tinha como subtítulo: ‘O Pendurado é igual a morte. O Diabo é igual a morte. A Morte é igual a morte
  Seu pensamento foi interrompido por um barulho chato. Após o susto, veio a lembrança: o celular de Carlos estava ligado agora. Um número oculto chamava, resolveu atender.
  -Chegando mais perto do fogo, Laura? Pelo visto sangue jorrado em sua blusa não assusta. Saiba que com a mira que tenho de você aqui não erraria o tiro. Não terei pena desse belo rostinho.
  -Quem está falando? Mostra sua cara, seu covarde. Não tenho nada a perder. –Nesse instante, um dos vitrais da biblioteca se estilhaça. Uma bala. Se alojou na poltrona perpétua que estava ao seu lado.
  -Cuidado com o que fala, mocinha. Gosto de brincar de esconder. Melhor correr.